Quão inúmeras são as sugestões úteis que recebemos para o desenvolvimento da alma? Difícil é colocá-las em prática. Elejo apenas uma para explorar aqui: quantas vezes já fomos aconselhados a perdoar? É possível que o ato de perdoar seja o mais rico exemplo do que entendemos ser o certo, mas resistimos em realizar. A demora em perdoar quem nos fere decorre de simples e profundo engano: crer que quem recebe o perdão é o exclusivo beneficiário da libertadora resolução. O perdão possui face não revelada, ao menos, não revelada antes que ele se concretize: após exercer o perdão, se é tomado por primor de paz, em manifestação viva da recompensa divina. O, em geral, hercúleo esforço para o exercício do perdão é, invariavelmente, compensado em maior proporção com o êxtase espiritual. E, se fosse fácil exercitá-lo, não haveria motivo para recompensa que transborda a alma. Se se tivesse de antemão exata consciência da serenidade que se conquista ao perdoar, essa elevada decisão perderia o mérito na medida em que expressaria apenas gesto egoísta. Não há fórmula para tornar o processo de perdão menos doloroso, entretanto é fundamental percorrê-lo. Perdoar não é somente relevar o desculpável, é, não raras vezes, superar o indesculpável. E, nos momentos de aflição, não é precisamente isso que se espera de Deus? Que nos desculpe até as falhas que, eventualmente, temos constrangimento em lembrá-las? Aquele que venceu a morte não ensinou a pedir ao Criador para “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”? Perdoar não é chancelar o erro alheio, nem esquecê-lo, é não mais se deixar contaminar por ele. Perdoar nem sequer nos obriga a conviver com o ofensor. E, convenhamos, é preferível estar em condição de exercer o perdão do que necessitar ser perdoado. Os erros que cometemos em nossa caminhada são personalíssimos. Há equívoco em negar o perdão por acreditar que a falta praticada foi além do que o ofendido jamais faria a outrem. E reconhecer o mal no outro pode nos trazer a impressão de que estamos no caminho da evolução. Nem sempre. Não partiremos daqui sem o inescapável confronto com nossos mais variados arrependimentos, contudo, perdoar é interessante opção para reduzi-los. Caro leitor, para os que creem, ter fé em Deus é essencial, mas Ele espera mais, espera que vivamos N’Ele, que é amor absoluto. E não há amor em plenitude sem perdão.
*Coronel, advogado e escritor
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