Nos tempos de menino, escrevia uma cartinha para Papai Noel, pedindo um presente, que ficava numa caixinha, ao pé da árvore de Natal. Na imaginação infantil, cheia de expectativas, aguardava ansiosamente o amanhecer, sem entender como ele conseguia entrar misteriosamente na casa e, com amor transbordante, deixar ali o tão esperado presente.
Os tempos mudaram. A tradição, não. Consta que o bom velhinho representaria São Nicolau, um bispo piedoso, que desse modo contemplava as crianças, entrando por uma chaminé. Os tempos mudaram e a fantasia continua, mesmo nas casas e apartamentos sem chaminé. Hoje lembrando da infância, escrevo minha cartinha para ele, que já recebe tantas, fazendo alguns pedidos em outra dimensão. Na verdade, é bom manter dentro de nós o espírito de criança, despido de maldades e mentiras, até porque sabemos, por meio do verdadeiro aniversariante, que exatamente por causa delas é preciso ser como uma criança para ter acesso ao reino dos céus. Em verdade, vos digo.
Escrevo, então, mergulhado em ilusões, utopias e tradições. É difícil, em nossos tempos, desejar fraternalmente o bem, e mesmo assim ser visto, por inveja e ciúmes, como uma espécie de inimigo oculto. Pensar o bem da humanidade é enfrentar as reprimendas de uma patrulha moral, que gosta de definir com exclusividade o que é bom, ou mau, querendo mesmo assim transmitir virtudes, com agressividade, hostilidade e ameaças. A decantada igualdade, que na prática requer uma ampla legitimidade, é derrotada por humilhações públicas, cancelamentos e verborragia acusatória numa fantasiosa comunidade da pureza.
Transformar tudo isso seria uma missão impossível: preciso começar por mudar a mim mesmo. O menino descobriria, aos poucos, que Papai Noel não existia. Imaginá-lo, porém, continua sendo delícia que alimenta confraternizações, abraços, beijos, votos de felicidade e reuniões familiares. Sendo assim, vamos mergulhar agora nas profundezas do real. O autêntico Natal gira em torno do seu eixo único. Jesus, bebezinho vindo ao mundo de uma maneira inesperada - humilde, numa modesta manjedoura. É ali que, em nossos corações, Ele nasce todos os dias, devendo receber as nossas oferendas: vamos para sempre precisar de sua presença ao nosso lado. É a grande notícia! Que Jesus, Papai Nosso, tenha seu espaço dento de nós. Desculpe, Papai Noel. Você é ficção. Jesus é real. Feliz Natal!
*Jornalista e escritor
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