O calendário marca 31 de outubro e, a cada ano, as ruas e escolas brasileiras se enchem de abóboras decoradas, fantasias assustadoras e o famoso grito de "Gostosuras ou Travessuras?". Embora o Halloween seja uma celebração de origem celta, popularizada nos Estados Unidos e conhecida por aqui como Dia das Bruxas, sua crescente popularidade no Brasil levanta uma questão pertinente: o que explica essa adesão a uma festa culturalmente estrangeira?
A resposta é complexa e multifacetada, residindo principalmente na influência da cultura pop norte-americana e na dinâmica da globalização. Filmes, séries e a internet trouxeram o Halloween para o imaginário brasileiro, transformando-o em um evento atraente, sobretudo para o público jovem e infantil.
Inicialmente difundida por escolas de idiomas, que viram na data uma excelente oportunidade para imersão cultural, a celebração rapidamente ganhou espaço em festas particulares, clubes e até mesmo no comércio. O apelo visual das fantasias, a temática lúdica do "doces ou travessuras" e a atmosfera de mistério e diversão se encaixaram bem em um país aberto a novas formas de entretenimento. O aspecto comercial também não pode ser ignorado, com a data movimentando a venda de fantasias, doces e artigos de festa.
É importante ressaltar que a popularidade do Halloween não é consensual no Brasil. Em uma reação de valorização da cultura nacional, foi instituído em 2003, através da Lei nº 2.762, o Dia do Saci, também celebrado em 31 de outubro. A iniciativa busca dar visibilidade ao rico folclore brasileiro, oferecendo um contraponto à importação cultural e incentivando a celebração de personagens genuinamente nacionais.
Hoje, o Brasil vive uma dualidade interessante: de um lado, a crescente e vibrante adesão ao Dia das Bruxas, e de outro, o esforço para manter viva a tradição do Dia do Saci. Essa convivência reflete a própria diversidade e maleabilidade da cultura brasileira, capaz de absorver influências externas ao mesmo tempo em que busca afirmar suas raízes.
O Halloween no Brasil, portanto, é menos sobre o rito celta original e mais sobre a celebração, a diversão e a adaptação de tendências globais. Ele se tornou uma data para festas temáticas, para a criatividade das fantasias e, acima de tudo, um espelho da nossa interconexão com o mundo. Cabe a nós, enquanto sociedade, garantir que, no meio de tanta abóbora e bruxa, o nosso folclore também encontre seu merecido espaço.
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