Verba volant, scripta manent. Sim, palavras voam, escritos ficam. A questão é que as palavras estão voando e os escritos indo para as alturas do mesmo jeito. Entre palavrórios e textos obtusos e confusos, ficamos encurralados e precisamos sair em busca da nossa lucidez, para ajudar na árdua busca de caminhos da verdade. A tarefa está ficando cada vez mais difícil.
Nosso indignado presidente disse que aplicar a pena de morte seria “suave” para o caso da mulher que teve as pernas amputadas, depois de arrastada por um quilômetro pelo crápula ex-namorado. Não é a mesma coisa que pensa uma “especialista”, que diante dos dados assustadores sobre feminicídio, disse com candura que machões devem ser “reeducados”. Uma professora universitária já havia dito que se um policial for ameaçado por bandido armado de fuzil, pode neutralizá-lo arremessando uma pedra. Um político de ardoroso partido defensor de pseudas humanidades, disse em congresso de militantes: dentre os mortos pela Polícia no Complexo do Alemão, só havia “vagabundos” e “bandidos”. Do mesmo partido, uma voz abalizada berrou: os mortos eram todos “cidadãos”. Desavenças internas. Mas o que essa horda de genios pretende dizer?
Vamos decidir o que podemos no calendário eleitoral. Descobri aquilo que o saudoso Stanislaw Ponte Preta chamava de “febeapá”, o festival de besteiras que assola o País. Teóricos escapistas, nunca profissionais de segurança, não sabem até onde vai o alcance do que falam. O que dizem não pode ser levado a sério. Eles pretendem que suas aleivosias sejam consideradas “científicas”. Fora da bolha da Academia, só existiria uma ignorância contrária ao saber. Examinam os dados que outros capturam, ignoram por completo as instâncias policiais, que vivem atacando, e insistem em concentrar-se em meras partículas da realidade. O discurso cansou. O grande desafio é que, ao se debruçarem sobre os dados alheios, eles emitem opiniões. Dizer “eu acho que”, e não mais, é um perigo social e científico. Quando se argumenta em contrário, eles reagem com ferocidade que rotulam de “acadêmica”. Não admitem divergências, cativos de políticas e ideologias nada científicas e comprovadamente pulverizadas. Fugitivos da Academia, contestam a dialética, ignoram fatores endógenos e exógenos. Falam para si mesmos. Pretendem aplausos. Merecem vaias.
Vamos buscar a válvula de escape social por conta própria.
*Jornalista e escritor
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