SEMANÁRIO ZONA NORTE - JORNAL DE MAIOR CIRCULAÇÃO NA ZONA NORTE

Sabado, 20 de Abril de 2024
Vamos meter a colher

Colunistas

Vamos meter a colher

Ao longo de séculos, a humanidade construiu e cultivou uma cultura em que a mulher pertencia ao homem

IMPRIMIR
Use este espaço apenas para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.

Ao longo de séculos, a humanidade construiu e cultivou uma cultura em que a mulher pertencia ao homem. Solteira, serviria ao pai, que decidiria se ela poderia estudar, com quem se casaria, e poderia até mesmo vender sua filha. Depois de casada, pertencia ao marido.

Até pouco tempo atrás, as mulheres não eram vistas como pessoas autônomas. Não tínhamos direito ao voto, e só podíamos praticar atividades cotidianas, como trabalhar e adquirir bens, com autorização do pai ou do marido. Nos primeiros códigos civis brasileiros, estava expresso que em qualquer discordância entre o casal, a vontade do marido prevaleceria sobre a da esposa.

Nesse contexto, o castigo físico praticado pelo homem para punir a desobediência da mulher às suas vontades foi normalizado. Mesmo deixando de ser um direito do marido por lei, a partir de 1890, a violência doméstica contra as mulheres ficou classificada como algo da intimidade do casal. Daí nasceram frases como “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.

Hoje, depois de tantas lutas e conquistas das mulheres pela igualdade, ainda persiste em parte da sociedade a ideia de que o homem tem certos direitos sobre sua esposa e que as brigas de um casal devem ser resolvidas entre eles, sem a interferência de ninguém.

É assim que acontecem casos como a morte da advogada Tatiane Spitzner, no Paraná, ano passado. Testemunhas relatam diversos casos em que o marido xingava e humilhava a esposa, e demonstrava ciúme excessivo. Na noite de sua morte, os gritos de Tatiane foram ouvidos por vizinhos e agressões do marido a ela foram captadas pelas câmeras do elevador do condomínio. Ainda assim, ninguém meteu a colher. Apesar da queda do quarto andar, o laudo do Instituto de Criminalística do Paraná aponta que a causa da morte foi estrangulamento. O caso aguarda julgamento.

Segundo o Atlas da Violência 2019, analisando dados entre 2012 e 2017, enquanto o número de mulheres assassinadas fora de casa diminuiu 3%, os assassinatos de mulheres dentro de casa subiram 17%. Pelo relatório da ONU Mulher, cerca de 80% dos assassinatos de mulheres são cometidos por parceiros, ex-parceiros ou familiares.

O feminicídio é, geralmente, o último estágio de uma série de violências, que podem ser físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais e morais. Nós não precisamos perder mais uma mulher para agir, e qualquer pessoa pode denunciar casos de violência doméstica – não apenas a vítima.

Ao ouvir ou presenciar um caso de violência contra a mulher, meta a colher! Acione a Polícia Militar, ligue 180 ou procure uma Delegacia de Defesa da Mulher. Essa atitude simples pode salvar vidas.

Adriana Ramalho

  • Vereadora da cidade de São Paulo e presidente da Associação das Vereadoras do Estado de São Paulo. E-mail: adrianaramalho@adrianaramalho.com.br

 

Comentários:

Crie sua conta e confira as vantagens do Portal

Você pode ler matérias exclusivas, anunciar classificados e muito mais!