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Terça-feira, 02 de Dezembro 2025

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Transformers e a guerra do futuro

Colunista *Otávio Santana do Rêgo Barros

Transformers e a guerra do futuro
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Na semana passada, reuniram-se em Varsóvia, na Polônia, representantes de Forças Armadas e integrantes da indústria de defesa de mais de cinquenta países, majoritariamente do mundo Ocidental, para debater a guerra do futuro.

Natural a escolha do local e do tema: a Polônia convive diariamente com a tensão de ter, na fronteira de 232 km com a belicosa Rússia, uma das passagens mais vulneráveis entre o leste e o oeste da Europa.

O Estado-Maior do Exército brasileiro fez-se representar no encontro — missão lógica para um órgão que analisa cenários, antecipa ameaças e indica caminhos para que a Força Terrestre se transforme, preparando-se para guerrear a guerra que está por vir, e não a que já passou.

Algumas conclusões levantadas em Varsóvia põem em xeque certezas sobre as quais o Exército brasileiro pavimenta a estrada que o levará ao futuro no âmbito do projeto Força 40.

Essas constatações precisam ecoar entre as lideranças civis, responsáveis por decisões políticas estratégicas, e também entre a sociedade, frequentemente alheia à temática da defesa e incapaz de perceber o odor de pólvora que impregna o ar de um mundo em turbulência diária.

A assertiva “Haverá uma guerra até 2027”, chocante diante do nosso pacifismo, partiu de militares e estudiosos da arte da guerra de alguns países europeus presentes ao encontro.

Resta a dúvida sobre onde ocorrerá. Na própria Europa, em uma possível reprise das tragédias do século passado. No Indo-Pacífico, onde Estados Unidos e China disputam a hegemonia global. Ou em algum outro espaço, onde potências atuem por meio de seus proxies para atingir interesses estratégicos.

A guerra entre Rússia e Ucrânia dominou os debates e foi compreendida como uma “Guerra Civil Espanhola” do século XXI, na qual a blitzkrieg contemporânea dos drones e de novas doutrinas de emprego é testada em escala real.

A linha de contato entre aquelas forças encontra-se praticamente paralisada sob o domínio absoluto de drones aéreos e terrestres, que tornam impossível qualquer movimento sem detecção imediata e ataque fatal.

O campo de batalha tornou-se mais profundo, fluido e, principalmente, transparente. Agora divide-se em quatro compartimentos sucessivos: o primeiro, povoado por máquinas; o segundo, por soldados que apoiam essas máquinas; o terceiro, onde permanece o grosso das tropas e dos equipamentos; e, finalmente, a retaguarda, onde operam logística, fogos de longo alcance, vetores aéreos, guerra eletrônica e cibernética, além dos “engenheiros do caos” que moldam as bolhas informacionais.

Como conclusão inquietante, a guerra do futuro será dominada por “Transformers”: sistemas terrestres, navais, aéreos e espaciais autônomos ou semiautônomos, guiados por operadores humanos ou, cada vez mais, por inteligência artificial.

A força muscular e a capacidade cognitiva do velho soldado, embora necessárias, estarão subordinadas a sistemas integrados, velozes e de altíssimo desempenho.

Ficção científica? Não. Realidade.

Daí emerge uma questão incontornável: se a guerra do futuro será guerreada por “Transformers”, quem os projetará e construirá? Engenheiros — muitos engenheiros apoiados em ciência, tecnologia e inovação.

Segundo o CSET (Center for Security and Emerging Technology), em 2020 a China formou cerca de 3,5 milhões de profissionais em STME (Science, Technology, Mathematics and Engineering); a Índia, 2,5 milhões; o Brasil, 250 mil — proporcionalmente, o último lugar entre os 44 países compilados pela OCDE.

Tecnologia não se vende, não se empresta, não se doa. Tecnologia se concebe, se pesquisa, se desenvolve. É vantagem estratégica. É soberania.

Nessa trilha, constatou-se no encontro que não basta aumentar o percentual do PIB destinado à defesa para ampliar a capacidade de proteção.

O General Indrek Sirel, Comandante das Forças Terrestres da Estônia, sintetizou o dilema: “Hoje tenho dinheiro de sobra para a defesa, mas não tenho onde gastá-lo. Os meios inexistem, as indústrias não dão vazão e a tecnologia não nos é compartilhada.”

Vê-se, pois, que o reforço orçamentário só é útil quando encontra uma base industrial de defesa capaz de produzir, modernizar e integrar sistemas. Do contrário, restará aos tecnologicamente incapazes a dependência crônica do exterior.

O desafio para a defesa nacional é alinhar recursos escassos, capacidade incipiente da indústria, pesquisa endógena de ponta e um propósito nacional comum — Estado e sociedade — em prol da soberania. A China enche 50 Maracanãs de engenheiros; o Brasil, apenas três. É hora de mudar.

*General de Divisão da reserva

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