A 4ª Delegacia Seccional Norte tem novo comando, o delegado Luiz Carlos do Carmo, que assume o cargo no lugar do delegado Fabiano Genofre. Na quarta-feira, dia 18 de julho, o delegado visitou a sede do jornal Semanário da Zona Norte.
Acompanhado pela delegada Fabiana Sarmento de Sena Angerani, o delegado foi recebido pelo diretor João Carlos Dias e destacou sua experiência na Polícia Civil, fez um balanço da sua gestão na Divisão de Patrimônio do Deic, falou do combate ao crime organizado e sobre os desafios em assumir a 4ª Delegacia Seccional Norte, uma das mais produtivas e atuantes da cidade de São Paulo.
Situada no prédio do 13º Distrito Policial, na Casa Verde, a Seccional Norte é responsável pelo comando central da Zona Norte através dos DPs: 9º (Carandiru), 13º (Casa Verde), 19º (Vila Maria), 20º (Água Fria), 28º (Freguesia do Ó), 38º (Vila Amália), 39º (Vila Gustavo), 40º (Vila Santa Maria), 45º (Brasilândia), 72º (Vila Penteado), 73º (Jaçanã), 74º (Jaraguá) e 90º (Parque Novo Mundo).
Confira na integra a entrevista com o delegado Luiz Carlos do Carmo
JSZN: Como foi sua carreira até o momento e qual foi seu maior trabalho já realizado na Polícia Civil?
Luiz Carlos do Carmo: Ingressei na carreira de delegado de polícia em 1989. Sou formado em Direito, na época em que era estudante estagiei no Ministério Público. Meu pai é procurador do Estado e me incentivou muito a ingressar na carreira Jurídica. Depois de algum tempo na advocacia, segui para a Polícia Civil. O início da minha trajetória na Polícia Civil aconteceu no 25º Distrito Policial, localizado na região de Parelheiros, onde fiquei bastante tempo. Em seguida, fui para 92º, no Parque Santo Antônio. Passei ainda pelo 8º DP na Mooca, 23º Distrito Policial em Perdizes e em vários outros lugares. Mas, em 1999 atuei em Ribeirão Pires, minha primeira titularidade, onde fui delegado do município. Ali eu aprendi muito e comecei a ter uma visão política na carreira. Na sequência, acabei indo para a Delegacia de Mauá, uma época muito difícil, pois havia muitos sequestros em andamento. A partir daí fui o coordenador de todos os sequestros do Grande ABC. Fiquei muito amigo do diretor, dr. Martins Fontes, que infelizmente faleceu, ele foi um grande amigo e mestre para mim. O dr. Fontes, então diretor do Decap, me levou para trabalhar com ele, onde logo tive uma promoção, primeira classe, ingressando como delegado seccional em São Mateus. Aprendi realmente o que é gestão, mas não deixei de atuar também no setor operacional, sempre acompanhei todas operações efetuadas pelas seccionais. Logo depois, fui para a 5º Seccional, Delegacia da Leste, região com menos violência se comparada com a 8º Seccional, que era uma delegacia com grande número de homicídios.
JSZN: Como foi sua experiência à frente da Divisão de Patrimônio do Deic? Qual balanço o Sr. faz da sua gestão?
Luiz Carlos do Carmo: Nos últimos 4 anos assumi a Divisão de Crimes contra o Patrimônio do Deic. Foi uma experiência marcante na minha carreira, onde comecei a ter uma visão sistêmica do crime organizado, ou seja, como ele age. Sabemos que, atualmente, o crime organizado está muito bem estruturado, existe uma enorme dinâmica e evolução nas suas condutas criminosas. Eu aprendi como lidar no enfrentamento do crime organizado, isso foi um aprendizado que trago para a Seccional Norte. Temos que combater a microcriminalidade, ela é muito importante. Hoje, possuímos duas leis que nos ajudam muito que são a Lei do Crime Organizado e a Lei Lavagem de Dinheiro. Acredito que o enfrentamento do crime organizado se faz com um verdadeiro ciclo completo. Na minha opinião, o ciclo completo não é apenas um procedimento de formalização de um ato de Polícia Judiciária feito pelas Policias Militar e Civil, e sim quando conseguimos desde o inicio do esclarecimento do crime até a decisão judicial, ou seja, estando conectados a Polícia, o Ministério Público, a Defensoria Pública, os advogados e o Poder Judiciário. E é isso que precisamos colocar em prática. Infelizmente, há uma insuficiência e falta de comunicação entre o sistema de Justiça Criminal. Atualmente, a Polícia Judiciária depende muito do Poder Judiciário e do Ministério Público para fazer grandes trabalhos no combate à macrocriminalidade. Se não houver essa integração não é possível desempenhar uma eficácia no combate ao crime organizado. Então, eu trago esta visão e no período em que atuei quatro anos no Deic, foi excelente, pois atuamos em relação às interceptações telefônicas, os pedidos de prisão temporária, as infiltrações e ações controladas.
JSZN: A Seccional Norte é uma das mais produtivas e atuantes da cidade de São Paulo. Quais demandas o Sr. pretende implantar na região?
Luiz Carlos do Carmo: Fiquei bastante contente em receber uma Seccional com funcionários que possuem grandes experiências. Eu sei também do grande profissionalismo do colega no qual estou substituindo, o delegado Fabiano Onofre. Realmente, ele deixou essa Seccional com muito recurso se comparado com as demais Seccionais. Analisando as estatísticas, percebemos a sua produtividade.
JSZN: Agilizar o atendimento é uma das prioridades?
Luiz Carlos do Carmo: Isso sempre foi a nossa maior demanda, sabemos da falta de recursos humanos que a Polícia Civil, nesses longos anos, perdeu. Hoje, sabemos que existe um trabalho que está sendo feito para poder completar essas vagas. Recentemente, tivemos alguns concursos abrindo 1.700 vagas. Tenho certeza que a atual gestão dará mais ênfase ao número de cargos que temos hoje.
JSZN: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pela Polícia Civil na região da Zona Norte de São Paulo?
Luiz Carlos do Carmo: Roubo e o crime contra o patrimônio que vêm crescendo acentuadamente. Hoje, a cada 10 pessoas presas pelo crime de patrimônio, 7 são reincidentes. Essa reincidência é muito alta nos crimes contra o patrimônio. E é isso que eu falo, quando temos essa grande reincidência, é porque a Polícia está fazendo um ótimo trabalho. Todas essas pessoas já tiveram presas, mas as benesses das leis acabam colocando essas pessoas muito rapidamente em liberdade. Hoje temos muita impunidade no país, temos uma lei muito antiga em relação à citação pessoal do acusado. Se o oficial de justiça não localiza o acusado, esse processo pode ficar suspenso e nunca mais ela vai ser julgado, venho combatendo e escrevendo artigos falando em relação a este tipo de congruência legal que o Poder Judiciário também convive. No entanto, dentro do crime de lavagem de dinheiro e dos crimes contra os sistemas financeiros e monetários isso não existe, ou seja, se a pessoa não for citada o processo continua correndo normalmente. Devemos ter um sistema onde temos que fechar esta torneira da garantia da impunidade e eu tenho esse remédio jurídico para isso. É a polícia que vai fazer esse trabalho com relação a essa impunidade que vem ocorrendo quando o oficial de justiça não localiza o acusado. São muitos os processos suspensos por falta de citação pessoal. Outro problema que nós enfrentamos é o das execuções criminais. Hoje, quando um delegado de polícia faz um autoflagrancial onde o acusado não tem defensor público, encaminhamos todo o registro para a Defensoria Pública. Porque isso não pode ser também feito quando o acusado que está lavrado um autoflagrancial não seja de imediato encaminhado para o juiz da execução criminal, em vez de dar a benesse para ele do semi- -aberto ou regime aberto? E é isso que eu venho trabalhando, para conseguir integrar todos esses sistemas.
JSZN: Uma das grandes preocupações da população é a violência. Como o Sr. pretende atuar em relação ao combate ao crime na região?
Luiz Carlos do Carmo: Hoje temos combatido muito a microcriminalidade como o trafico de entorpecentes. Cerca de 90 mil presos que estão dentro do sistema prisional são microtraficantes, que custam em média R$2.500 mensais cada um. Temos que combater não só o microcomércio mas também os grandes traficantes. Devemos ainda quebrar o sistema da lucratividade dos traficantes, apreendendo os veículos, as residências, ou seja, tudo aquilo que ele lavou proveniente dos crimes.
JSZN: Como a população pode ajudar a Polícia Civil?
Luiz Carlos do Carmo: A participação da população é muito importante, pois é através dela que chegam as informações. A comunidade tem sempre apoiado, quando não se omite nas informações. Atualmente, há vários mecanismos de sigilo onde as pessoas podem fazer suas denuncias. A parte mais importante é quando a população contribui e acredita na Polícia. Mas para que a sociedade possa acreditar mais na Polícia é necessário aumentar o índice de esclarecimentos de crimes. Quando as pessoas começarem a ser presas e terem seus bens perdidos, aí o crime começa a perder a força. O crime só perderá a força a partir do momento que ele tiver prejuízo na sua lucratividade. E hoje temos os instrumentos para combater esse tipo de crime que é a lavagem de dinheiro. Com a experiência que eu tive no Deic, no combate à criminalidade, posso trazer para as delegacias.
JSZN: Qual a importância das mídias regionais, em especial do jornal Semanário da Zona Norte?
Luiz Carlos do Carmo: As mídias regionais são muito importantes porque sabemos que a imprensa é muito crítica, mas sabemos que ela também pode ser construtiva, além de mostrar o nosso trabalho. Não queremos policiais corruptos e uma mídia negativa contra nós. E o jornal Semanário da Zona Norte é uma mídia importantíssima e muito útil na região, pois sua divulgação é feita com seriedade e credibilidade. Além disso, o Semanário da Zona Norte é uma mídia específica e direcionado aos problemas da região.
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