Bem definiu o dramaturgo italiano Pirandello: “assim é, se lhe parece”. Há quem pense desse jeito. Se tiver neurônios funcionando, irá descobrir, com o passar do tempo, que não é bem assim. O que parece pode não ser.
Assim acontece com as teses sobre o que deveria ser feito em matéria de segurança pública: atolados nos pântanos ideológicos e políticos, chafurdam os berrantes falsos entendidos com fórmulas que nunca produziram resultado algum, embora insistam em querer ensinar o padre nosso aos vigários, dando aulas com ilusões e delírios completamente desconectados da realidade.
Muitas vezes são obrigados a dar meia volta. Exemplo recente: ladrão de celular seria um mero coitadinho. O Superior Tribunal de Justiça endossou: não se trata de roubo e sim “furto simples”. Se o ladrão der um tiro na cabeça da vítima, como acontece muito, seria algo para se pensar mais tarde. Ai de nós. Nosso presidente, preocupado com forte desgaste popular, já defendeu com ênfase o coitadismo, mas agora proclamou que o Brasil não irá se transformar numa “República de Ladrão de Celulares”, porque serão tomadas medidas contra o crime organizado. O ventríloquo ministro da Segurança Pública falou num “serviço de inteligência” para “troca de informações” na recuperação de celulares. O discurso é mais uma vez oco.
O que interessa para a população é a tomada de atitudes para estancar o medo da insegurança, tão dominante que se transformou numa prioritária preocupação. Os falsos donos da verdade dizem ardorosamente que a Polícia somente iria às ruas para caçar pessoas pela cor de pele, nível social e hipossuficiência. O alvo do ataque é sempre a Polícia. Se assim fosse, haveria um sórdido pacto com promotores, juízes e o sistema prisional, que não recolhe ninguém porque queira, pois precisa cumprir determinações. O grande bolo criminal precisa ser dividido em partes iguais. Vamos supor que o sistema de persecução convergisse exclusivamente para um lumpesinato prático.
Os nossos adeptos de míopes suposições precisam ir além, aprendendo que “fator” é aquilo que pode contribuir para a prática do crime e “causa” é a razão dele existir. Como assim é, não apenas parece, que ataquem as verdadeiras provetas: desigualdade social, educação precária, habitação indigna e jovens sem perspectivas sociais. É tão difícil entender? Só falta que sugiram a implantação de cotas criminógenas.
*Jornalista e escritor
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