Ele e ela se apaixonaram! E queriam se casar!
Até aí, tudo bem: é comum que paixões acontecem e, quase sempre, levem ao casamento.
Mas aí entra o detalhe. E, como insinua Magalhães Rosa, “O diabo se esconde nos detalhes”...
Embora detalhe se refira a coisa de pequena significância – tanto que seu sinônimo é pormenor – nem sempre é isso que ocorre. Tenho visto e ouvido pessoas falarem de “detalhe importante” ou “grande detalhe”... Então, entremos na onda: no nosso caso, havia um “importante detalhe”!
Ele era da primeira linha da nobreza da tradicionalíssima Família Real da Inglaterra! Estava na linha de sucessão monárquica. E ela era americana. Logo, plebeia e – pior ainda – divorciada! Pronto! Isso derretia qualquer possibilidade de “final feliz” para aquele férvido romance...
Toda a nobreza caiu em cima dele! De forma alguma poderia conciliar sua condição de virtual soberano com o casamento com uma mulher naquelas condições!
Ah! mais um “detalhe importante”: o caso aqui narrado não é de agora não! Ele ocorreu na primeira metade do século 20!
Quem assim se apaixonou foi Edward Albert Christian George Andrew Patrick David, que seria rei do Reino Unido e da Commonwealth, e Imperador da Índia! Nascido em 23 de junho de 1894, em 1934 – ao conhecer a americana Bessie Wallis Simpson –era o solteirão mais cobiçado do mundo! Com tantas “cabeças coroadas” a seu redor, apaixonou-se por aquela mulher, anteriormente divorciada de Earl W. Spencer e então casada com Ernest Aldrich Simpson!
Após divorciar-se também desse cônjuge, ela se julgava apta a desposar Edward... Mas não!
A situação, que já não era boa, agravou-se com a morte do pai, George V, o que o forçou a assumir o trono em 20 de janeiro de 1936, como Edward VIII. Aí a pressão da corte exigindo o fim do romance atingiu o auge!
Foi então que ele tomou uma surpreendente decisão: disse não à coroa inglesa e sim à “coroa” americana!
Não sendo mais rei, recebeu o título de Duque de Windsor e Wallis, com quem se casou em 3 de junho de 1937, o de Duquesa de Windsor. Passaram viver na França, onde ele faleceu em 28 de maio de 1972, e ela em 24 de abril de 1986.
E aí chegamos aos nossos dias: na primeira metade do século 21, a história se repete!
Ele e ela também se apaixonaram. E também queriam casar.
Novamente, o detalhe! Ele, membro da nobreza da mesma Casa Real britânica, na linha de sucessão. Ela plebeia, americana, divorciada, afrodescendente e mais velha do que ele!
Tinha tudo para ser um caso pior do que o anterior... Só que não foi!
Em clima inimaginável para a velha época, a corte aceitou serenamente a decisão do príncipe Harry de se casar com a ex-atriz americana Meghan Markle e ofereceu uma grande festa, exatamente no Castelo de Windsor! O mundo todo, pela maravilha da TV, assistiu à celebração inteirinha. Com mais um detalhe: os pontos altos, a música “Stand by me”, entoada por “The King Choir” e o tocante sermão do bispo americano Michael Curry, tinham “o pé na cozinha”!
* Consultor, comunicador, jornalista, palestrante
e-mail: jboliveira@jbo.com.br
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