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Terça-feira, 15 de Outubro de 2024
Fugindo da Caverna

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Fugindo da Caverna

Colunista Eduardo Diniz

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Há cerca de 2400 anos, no seu livro A República, por meio da alegoria do Mito da Caverna, Platão tratou da teoria do conhecimento e da percepção da realidade e nos mostrou por meio dela que o elemento essencial que um bom governante deve ter é o conhecimento. A distorção da realidade será tão maior quanto nos deixamos distanciar da busca do conhecimento, ela será tão grande quanto nos mantermos orientados apenas pelas nossas crenças. 

Mesmo assim, em pleno Século XXI, observa-se um grande número de pessoas que não foram tocadas por essa verdade. A busca do conhecimento é algo que deve nos orientar por toda a nossa existência, por mais letrados que possamos nos imaginar. “Só sei que nada sei”(frase atribuída a Sócrates) deveria ser um mantra para todos nós. 

Não é objeto dessa reflexão aqueles que não puderam ter acesso a uma boa educação. O foco aqui são aqueles que frequentaram os bancos escolares e se vêm como detentores de todo o saber e com a mais fidedigna percepção da realidade. É espantosa a presunção de analistas, especialistas, comentaristas, "influencers", apresentadores de televisão e outros muitos  "doutores".  

Vacinado pelos ensinamentos de Platão, busco não engrossar essa fileira de "sábios e nem tampouco acreditar em tudo o que falam e proclamam. Um dos piores comportamentos que vemos hoje é o daqueles que acreditam em tudo o que lêem e contribuem para tornar verdade a mais deslavada mentira. 

Para evitar esse mau, trago aos meus leitores um, digo, dois antídotos em forma de leitura que muito me ajudaram e que podem auxiliar outros para que se trabalhe melhor o julgamento que se faz dos fatos e, assim, se tenha uma melhor percepção da realidade. São livros que se complementam e que nos dão as ferramentas para nos libertarmos do obscurantismo da Caverna. 

O primeiro deles é Rápido e Devagar: duas formas de pensar de Daniel Kahneman. Kahneman ao expor os dois sistemas que orientam o nosso pensamento, um rápido mais  intuitivo e um devagar mais cognitivo e racional, nos mostra os equívocos a que estamos sujeitos ao nos orientarmos por vieses e associações errôneas que fazemos. Essa leitura nos mostra, por meio de exemplos de experimentos feitos, que devemos estar mais alertas às armadilhas que nossa forma de pensar nos prega, ao desconhecermos o nosso mecanismo mental. 

O outro livro é a Lógica do Cisne Negro. Nele, Nassim Nicholas Taleb, ao tratar da ocorrência de eventos por ele chamados de cisnes negros, vem nos mostrar que mais importante do que aquilo que sabemos é aquilo que desconhecemos. Cisnes negros, para Taleb, são aqueles eventos que acontecem sem que tivéssemos capacidade de prever a sua ocorrência.  O exemplo maior citado no livro é o ataque às Torres Gêmeas, que deixou o mundo todo estarrecido pela tragédia que foi e pela forma inusitada em sua concepção. Os serviços de inteligência e as medidas de segurança adotadas levavam em conta apenas aquilo que tinham como conhecido: os modos padrão de proceder. Aquilo que desconheciam e ignoravam conduziu os terroristas ao sucesso. 

Este é apenas um dos muitos cisnes negros que ocorrem a todo momento, nos mostrando que aquilo que conhecemos é uma pequena parte do todo que define a ocorrência dos fatos. 

Julgar inadequadamente, presumir razões, comportamentos e fatos sem se fazer uma análise adequada e profunda e levar-se em conta apenas as variáveis conhecidas sem se ater a existência de outras que também afetam o problema, sempre leva-se a posicionamentos equivocados, ao invés de se trabalhar com a pura realidade fica-se sim diante de um quadro fictício que se assemelha à das sombras projetadas na parede da caverna. 

*Um cidadão brasileiro 

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