O planeta Terra foi entregue à humanidade repleto de recursos naturais, postos à disposição do animal racional. Portando-se de forma irracional, o bicho-homem foi destruindo seu habitat. Nossa Pátria é um exemplo dessa devastação. Todos os biomas foram vítimas do extermínio. A Amazônia, considerada “pulmão do mundo”, grande caixa d’água para grandes extensões territoriais, perdeu boa parte de sua cobertura vegetal. O Cerrado passou a ser o campeão na fabricação de desertos e a nossa Mata Atlântica, o bioma que mais perde, pois situado na orla litorânea, alvo de intensa e crescente especulação imobiliária.
O Brasil precisa de mais de um bilhão de árvores. São Paulo precisa de mais de um milhão delas. Só no extremo sul da cidade, região de Parelheiros, Capela do Socorro, Grajaú e Engenheiro Marsilac, desapareceram nas últimas décadas dois milhões de árvores.
As mudanças climáticas constituem a resposta da natureza a esse crime de eliminação do verde de nossas vidas. Aquilo que aconteceu em Porto Alegre pode ocorrer em qualquer outro lugar, inclusive onde moramos. Uma das maneiras de evitar que as catástrofes tenham as consequências nefastas da perda de vidas, de patrimônio, de infraestrutura de cidades inteiras, é permeabilizar o solo impermeabilizado de nossas cidades. A água precisa de terra para chegar aos lençóis freáticos e aos aquíferos. E onde existem árvores, não ocorre erosão. Ao contrário: árvore garante água, garante chuva, pois produz o fenômeno da ecotranspiração, dá sombra, dá frutos, abriga pássaros, embeleza a paisagem.
Vamos devolver à natureza, aquilo que dela subtraímos. Plantemos árvores. Incentivemos o plantio. Colhamos sementes de árvores nativas. Façamos mudas. Cuidemos de repor essa dádiva divina que é a árvore, que ninguém sabe fabricar, mas que é fácil destruir com o uso de uma motosserra. Assumamos nossa obrigação cidadã de seres racionais que sabem depender da natureza e que são parte indissociável do ambiente: é hora de restituir à terra aquilo de que a privamos e que é a causa de nosso maior risco e mais séria ameaça: o desaparecimento de qualquer espécie de vida neste sofrido planeta.
*José Renato Nalini é Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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