Estamos assistindo a uma ridícula guerra de bonés, que embutem metáforas e alegorias, com espetáculos espalhafatosos e midiáticos, produzindo a coreografia de uma superioridade moral.
Um deles, onde se lê “O Brasil é dos brasileiros”, minha inteligência foi subestimada: sempre pensei que construímos uma só Nação, temos um só língua e o mais importante de tudo: um só povo. Federação e não Confederação. Juntados os bonés, vemos uma degradação institucional, pois camuflam uma batalha de cunho eleitoralmente populista.
Já com as gravatas, a mais Alta Corte de Justiça mandou fazer um modelo, exclusivo, para ser ofertado, como souvenir, aos considerados merecedores: a peça tem o símbolo da Corte, um adorno, no caso masculino, ou um lenço, no caso feminino.
Decifrando aparentes enigmas: senão seremos devorados: no caso dos bonés, a voz popular diz que quando se fica insatisfeito, ao exercer determinado cargo, apanha-se o boné e vai embora. Claro que a maioria prefere engolir humilhações do que jogar o boné. Em relação às gravatas, um ex-integrante da Corte, agora ministro de Estado, anunciou com entusiasmo um plano chamado “Pena Justa”, com a pretensão de humanizar o sistema prisional.
Por trás da cortina de fumaça, está a ambiciosa intenção de aplicar a ira da sociedade que protesta contra uma segurança pública deficiente. Para fechar o pacote, temos agora a formação de um comitê, em São Paulo, para equacionar medidas que produzam resultados satisfatórios. Amém.
Por partes: os bonés formam um coral cujas vozes ecoam um discurso importado em sarcófagos, dentro dos quais estão cadáveres. O que promete a “pena justa” é original como o sol. Insiste na maioria de negros e pardos. Mas quem os manda para a prisão? A Justiça. Como melhores dias poderiam vir? Segundo o plano, entre outras coisas, controle de entrada e conciliação de saída com reintegração social. Tudo passado: já houve, na entrada, centros de classificação e triagem, para evitar a mistura entre alta periculosidade e presos mais dóceis. Reintegração: já existiu uma Casa do Egresso, para abrigo e orientação dos recém-saídos. Gênios inaptos acabaram com as medidas.
Quanto ao comitê, não entendo a sua formação: pessoas do próprio sistema, em pleno exercício de seus cargos, convocadas para melhorar exatamente aquilo que já deveriam estar fazendo. As vítimas da brutalidade criminal continuam esperando.
Percival de Souza – Jornalista e escritor
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