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Terça-feira, 15 de Outubro de 2024
Ação consciente e ética de cada cidadão

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Ação consciente e ética de cada cidadão

Colunista Paulo Eduardo de Barros Fonseca

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Em tempos de eleição, quando todos são chamados a exercer seu papel de cidadão, lembrei-me da passagem bíblica (Marcos 12- 1:17) quando, elevando uma questão material para um problema religioso, maliciosamente, tentaram fazer com que Jesus transgredisse as normas então vigentes ao fazerem-lhe a seguinte indagação: “Mestre, sabemos que és homem de verdade. E de ninguém se te dá, porque não olhas à aparência dos homens, antes com verdade ensinas o caminho de Deus: é lícito dar o tributo a Cesar, ou não? Daremos, ou não daremos? Então ele, conhecendo a hipocrisia, disse-lhes: Por que me tentais? Trazei-me uma moeda, para que a veja. E eles lha trouxeram. E disse-lhes: De quem é esta imagem e inscrição? E eles disseram: De César. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus. E Maravilharam-se dele”. 

Essa divina lição, como todos os ensinamentos do Cristo, tem um princípio geral e prescreve o cumprimento dos deveres e o respeito aos direitos de cada um, como todos desejam que os seus sejam respeitados.  

Isso me remeteu a uma antiga crônica publicada neste jornal1 na qual tecemos algumas observações acerca do exercício da cidadania, quando ponderamos que o exercício da cidadania, que deve ser praticado em todos os espaços do cotidiano e das relações humanas, pode ser definido como a participação ativa e efetiva na sociedade em que se vive, a implicar no respeito e cumprimento de deveres para que direitos possam ser reivindicados. 

Isso porque, uma postura omissiva em relação ao exercício pleno da cidadania leva o homem à alienação e à sujeição em relação àqueles que se posicionam.  Além disso, a cidadania é um atributo de todo indivíduo no gozo dos seus direitos civis e políticos, aliás, inerente ao Estado Democrático de Direito, e possibilita aos membros da sociedade a participação ativa na vida e no governo de seu povo, ou seja, propicia que todo cidadão possa interferir, direta ou indiretamente, nos destinos da nação.  

Assim, embora não seja a panaceia para todos os problemas, o exercício do voto possibilita que todo indivíduo participe ativamente de uma ação que busque coibir as posturas daqueles que, quando investidos como agentes políticos, maculam os bons costumes, alienam pessoas, semeiam a discórdia, a divisão e a miséria, utilizando-se de instrumentos de corrupção, da mentira e da fraude para enfraquecer a sociedade como forma de privilegiar seus próprios interesses.  

Independentemente de qualquer outra conotação, seja de ordem política ou religiosa, no exercício da cidadania o homem, único ser dotado de inteligência e que é gregário, ou seja, que vive em sociedade, deve se mobilizar em torno das questões que promovam a liberdade, a igualdade e a fraternidade, colocando em prática, indistintamente, o mandamento maior do amor ao próximo. 

Essa prática evidenciará a conscientização dos direitos e deveres a que os homens estão submetidos e, certamente, propiciará a transformação do indivíduo e, como consequência, do meio em que vive. Mais que isso, evitará que se repitam manifestações como a de Ruy Barbosa, que em seu histórico discurso feito no Senado em 17/12/1914 manifestou sua descrença com a situação do país, ao dizer que: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. 

Infelizmente, esse alerta é atual e deve continuar vivo em nossos corações fazendo com que todo cidadão tenha a consciência tranquila de ter dado ao país aquilo que estava ao seu alcance.  É por isso que a ação de cidadania traduzida pelo voto deve refletir uma atuação constante na busca de uma ordem social que leve em conta os valores e princípios democráticos e republicanos, viga mestras do Estado brasileiro, e privilegie o bem comum e não o interesse daquele que irá exercer um mandato, daquele que irá governar.  

A prática consciente da cidadania, que por vezes é confundida com o exercício da política, implica no conhecer-se melhor perante si mesmo, a sociedade e Deus, porque haverá o respeito à ordem social e as leis da natureza. 

Em provérbios 29-2 temos que “quando o justo governa o povo se alegra, mas quando o ímpio domina o povo geme”. Essa máxima deixa explícito que para o exercício do dever-poder cívico do voto é indispensável que todo cidadão enxergue a sociedade por si mesmo, que aja com coerência ética e moral em prol do bem comum e expresse sua opinião quanto ao país que quer ver e viver.   

Enfim, se a liberdade de escolher um representante deve expressar a opinião acerca da situação sociopolítica e o que se espera para o futuro, a construção de um país mais justo e perfeito começa pela ação consciente e ética de cada cidadão ao exercer seu poder-dever de votar. 

Ajudar na transformação deste mundo de provas e expiações, onde ainda há fortes resquícios do mal em um mundo de regeneração, para que prevaleça o bem, implica no respeito e exercício dos princípios democráticos de cidadania e ética, que propiciam a justiça social, harmonia, fraternidade, enfim, o amor ao próximo.  

Portanto, para o aperfeiçoamento da sociedade, com sua evolução moral, é preciso que cada qual, em qualquer situação, atue dentro dos princípios basilares que visam o bem comum. 

A cidadania nos incentiva a fazermos uma reflexão acerca do nosso papel como indivíduos que devem agir com honradez, honestidade, respeito ao próximo e a Deus, tornando-se mais justo e perfeito. E é por isso que, mais uma vez parafraseando Rui Barbosa: “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo.”. 

Em qualquer situação, seja em relação “a Cesar” ou a Deus, podemos e devemos nos lembrar dos exemplos de Jesus procurando aprimorar nossos pensamentos, atos e atitudes para que nossos exemplos ajudem a contagiar outras pessoas e todos sejamos artífices de uma efetiva transformação social. 

Paulo Eduardo de Barros Fonseca       

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