Narra o evangelista Lucas – 10:3-37 - que certa vez um doutor da lei perguntou a Jesus o que ele deveria fazer para herdar a vida eterna. Percebendo o tom capcioso da pergunta, Jesus indagou: “O que está escrito na Lei?”, obtendo em resposta: “Amará ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao próximo como a ti mesmo”. Ante a correção da resposta Jesus lhe disse: “Respondeste bem; faze isso e desfrutarás da vida eterna”.
Porém, o homem não se viu satisfeito e fez nova indagação: “Quem é o meu próximo?” e Jesus, com o objetivo de responder-lhe narrou a parábola do bom samaritano, dizendo: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou aonde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: ‘Cuide dele. Quando eu voltar, pagarei todas as despesas que você tiver’.”. Com isso Jesus indagou ao homem: “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” obtendo como resposta: “Aquele que teve misericórdia dele”. Assim Jesus lhe disse: “Vá e faça o mesmo”.
Esse ensinamento, além de colocar o samaritano acima de outros considerados religiosos, evidencia o exercício incondicional da caridade, notadamente porque o ato praticado não objetivou qualquer recompensa. Também alerta que mais do que sabermos os textos sagrados o essencial é colocá-lo em prática, vivendo a lei de amor e de fraternidade.
Oportuno lembrar que, naquela época, o samaritano era considerado um ser desprezível e herege pelos judeus ortodoxos, mas, ao contrário, ele dispensou a um desconhecido o amor fraternal, tornando-se virtuoso perante Deus. Porém, passados mais de dois mil anos, essa questão permanece palpitante sendo debatida em vários aspectos, porquanto a fraternidade é observada como um valor orientativo num contexto social de múltiplas facetas em que prevalece o individualismo.
De fato, a fraternidade gera a liberdade e a igualdade, bem como é uma das formas da manifestação do amor ao próximo, significando caridade com benevolência, compreensão e tolerância. Ao se sobrepor ao egoísmo, que é uma das máculas humanas das sociedades de todas as épocas, a fraternidade, que tem a capacidade de trazer unicidade de modo a reconhecer como valores comuns, estruturando e respeitando a todos.
A fraternidade, na sua acepção mais pura, é a prática do amor, como também o é a caridade. Assim, percebe-se a importância do amor fraternal, de irmos ao auxílio de um irmão sempre que ele necessite, desta forma lapidaremos a pedra bruta que somos e, consequentemente, ajudaremos a tornar a sociedade um lugar melhor.
Nesse contexto, é de se refletir no sentido de que aceitar que qualquer intervenção humana deve se comprometer com a perpetuação da vida com qualidade e que as relações humanas não apenas reflitam a satisfação de desejos pessoais, mas a sociedade como tudo o que espera para alcançar seu desenvolvimento sustentável, é reconhecer a essência da doutrina trazida e exemplificada pelo Cristo que nos ensina que “Fora da caridade não há salvação”.
*Governador 2006/2007 do Distrito 4430 de Rotary International.*
Comentários: