Desde tempos remotos a humanidade busca entender e explicar o mistério da figura de Deus, simplesmente porque dela dependem não só a existência do cosmos (ordem) como também a possibilidade de seu conhecimento. A compreensão sobre essa temática ganha relevância e é facilitada quando essa reflexão leva em consideração os aspectos da filosofia, a ciência e a religião, portanto, com o entrelaçamento da fé e da razão.
Santo Agostinho, um dos filósofos do cristianismo, ao dizer que a razão “relaciona-se duplamente com a fé: precede-se e é sua consequência”, bem como que “é necessário compreender para crer e crer para compreender” - intellige ut credas, crede ut intelligas -, sustentou em seus escritos que a fé deve ser precedida por um trabalho intelectual voltado à razão, sendo, portanto, um dos precursores de uma forma de pensamento que consegue fazer o entrelaçamento entre fé e razão.
Tomaz de Aquino, outro filósofo do cristianismo, ao discorrer sobre Deus incluiu em um só conjunto a filosofia e a fé, e O apresenta como a revelação divina que possibilita formularmos enunciados sobre a condição humana e sobre o mundo em que vivemos. Pode-se dizer, em síntese, que a justificativa do pensamento do filósofo e teólogo é no sentido de que primeiro: é Deus e posteriormente o homem e o mundo.
Nesse contexto, se, de um lado, a filosofia por si só não consegue esgotar os conhecimentos que podemos ter do mundo e de nós mesmos; de outro lado, para que seja possível explorar de maneira mais abrangente a compreensão e a percepção do mundo e dos homens, necessário se faz refletir sobre as leis morais, que emanam de Deus.
Assim, a fé, enquanto um sentimento inato no homem, ganha relevância ao aperfeiçoar a condição de entendimento da razão e a razão é o argumento aceito por todos os homens para esclarecer os assuntos da fé. A doutrina espírita também entende que “fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”.
Com base no conceito de que Deus dá a luz, mas o arbítrio do que fazer dela é de casa pessoa, lembro-me que Albert Einstein afirmou que “a matéria não explica a matéria e o universo não explica a si mesmo” e que “quanto mais me aprofundo na ciência mais me aproximo de Deus”, pois “cada descoberta nova da ciência é uma porta nova pela qual encontro mais uma vez Deus, o autor dela”, mesmo porque “sem Deus, o universo não é explicável satisfatoriamente”.
Se a natureza divina escapa ao completo entendimento humano, pois Deus é inefável, a luz divina dada ao homem não dispensa a este um raciocínio próprio, muito ao contrário, supõe a sua existência.
É por isso que ao observar, interrogar e conceber não creio no Deus limitado e criado pela ignorância humana, mas creio no Deus cósmico que transcende a capacidade do homem de o entender, que é preexistente ao conceito da vida, que fez o homem e que será sobrevivente ao passar do tempo.
A partir desse posicionamento é plausível afirmar que mesmo que as verdades da fé não sejam experimentalmente demonstráveis, pelo uso do raciocínio lógico, é possível demonstrar o acerto de nelas crer, notadamente porque “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Paulo Eduardo de Barros Fonseca
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