No hemisfério sul do planeta, dentro de um ciclo próprio da natureza, entramos na estação do outono.
Nessa estação o nascer do sol se mostra como que aveludado, o vento sopra mais fresco, a temperatura mais branda, trazendo o bem-estar da vida para quem quiser absorvê-lo e a noite nos dá um brilho mais acentuado do céu, mostrando-nos sua imensidão.
Nesse período do ano as folhas das árvores caem para se protegerem do frio, reduzindo ao máximo o seu gasto de energia. Assim, despindo-se das folhas velhas as árvores se protegem e se preparam para um período de renovação.
O outono, simbolicamente, nos revela um período de recomeço, quando nos é dada a oportunidade de, num processo individual de reflexão, nos livramos das nossas velhas folhas para abrandarmos as mentes e, sobretudo, nossos corações.
No livro “Fala Amendoeira”, Carlos Drummond de Andrade, com sua peculiar mineirice, diz em um de seus poemas o seguinte:
“- Fala, amendoeira - por que fugia ao rito de suas irmãs, adorando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe: - Não Vês? Começa a outonar. É 20 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.
- E vais outoneando sozinha?
- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mês, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.
- Somos todos assim.
- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos nua hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
- Não me entristeças.
- Não, querido, sou tua árvore da guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonizes com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há uma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-te com dignidade, meu velho”.
Observe a sabedoria e perfeição das lições da natureza, bem como aproveite o simbolismo que o outono traz para se livrar das folhas velhas e limpar a sua alma e seu coração, porque é tempo de reflexão, interiorização e, sobretudo, renovação.
Aproveite a oportunidade ... afinal, é outono!
*Governador 2006/2007 do Distrito 4430 de Rotary International.