Minha vida acadêmica que podia ser classificada como bem sucedida, trouxe-me elevada auto confiança e, como consequência, me tornou um profissional bastante assertivo em meus posicionamentos e opiniões. 

Ao ingressar na Escola de Comando e Estado-Maior tive uma experiência que foi de extrema importância para todo o prosseguimento da minha carreira, fazendo-me questionar as certezas que tinha até então. 

Na primeira semana de aula fomos distribuídos em grupos num grande salão e nos foi apresentada uma situação problema para a qual deveríamos apresentar uma solução: éramos os sobreviventes de um acidente aeronáutico em área de selva, contávamos com alguns itens de sobrevivência e foi nos solicitado que apresentássemos os passos e medidas que deveriam ser adotados para que fossemos resgatados com sucesso.  

Quais foram os aprendizados dessa experiência? Vi que além da solução que imaginava correta, havia um número de outras tantas que correspondia a quantidade de integrantes do grupo. Cada cabeça imaginava uma solução. O segundo ponto importante era que, via de regra, as soluções apresentadas pelo grupo, que reunia todos os pontos de vista, eram mais efetivas que as apresentadas por cada integrante do grupo. O futuro comandante de Unidade era alertado para que sempre ouvisse os integrantes de seu Estado-Maior antes da tomada de qualquer decisão. 

Como integrante da Aviação do Exército, também pude vivenciar uma condição que apontava na mesma direção. A filosofia de segurança de vôo parte do princípio que o essencial é a prevenção, ou seja agir antes que o acidente ocorra, mitigando os riscos que se apresentem e para tal se faz essencial ouvir. Todos os integrantes do sistema são incentivados a apresentar um relatório a cada situação de risco que vislumbrem. O comandante ou dono da empresa aérea deve levar em conta todos eles, independentemente de sua pertinência. 

Como comandante de unidade operacional, diretor de Material de Aviação do Exército, gerenciando a manutenção e o suprimento de quase uma centena de aeronaves e depois como dirigente de um Clube Esportivo Sócio Cultural, com cerca de dezoito mil sócios, o saber ouvir foi ferramenta fundamental para que obtivesse algum sucesso em cada uma dessas empreitadas e no mínimo não me levasse ao fracasso. 

Saber ouvir implica em, primeiramente, abrir o máximo de canais para que as informações cheguem até você. Além de disponibilizar todos os canais possíveis deve-se incentivar a a participação de todos.  

Saber ouvir é um exercício de humildade em que assumimos as nossas limitações e entendemos que não somos os únicos donos da verdade. Aqueles que trabalham conosco têm muito a contribuir principalmente aqueles que trabalham sério e não estão preocupados em apresentar soluções que agradem ao chefe. A idéia discordante pode, sim, ser a mais adequada. 

Ao tratar da importância do saber ouvir ai vai aquela que é a cereja do bolo dessa reflexão. Para nos sentirmos seres humanos dignos e com alguma importância, é crucial que tenhamos a aprovação dos outros, é importante que as nossas ideias sejam consideradas. Quando ouvimos os que estão a nossa volta, fazemos com que essas pessoas se sintam seres de valor e assim tenham a sua auto estima aumentada. Todos são dignos de serem ouvidos, independentemente da posição que ocupam. 

Saber ouvir uma lição para a vida. 

General Diniz